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terça-feira, 16 de maio de 2017

Solidão x Solitude


Perguntaram a Osho: Eu sofro imensamente de solidão. O que posso fazer sobre isso?
Osho respondeu:
“A escuridão da solidão não pode ser combatida diretamente. Isso é algo essencial que todos devem entender, que existem algumas coisas fundamentais que não podem ser modificadas. E este é um dos fundamentos: você não pode lutar com a escuridão diretamente, com a solidão diretamente, com o medo do isolamento diretamente. A razão é que nenhuma dessas coisas existe; elas são simplesmente ausências de alguma coisa, assim como a escuridão é ausência da luz.
Então o que você faz quando não quer que o quarto esteja escuro? Você não faz nada diretamente com a escuridão – ou faz? Você não pode empurrá-la para fora. Não há possibilidade de criar algum esquema para que a escuridão desapareça. Você deve fazer algo com a luz. E isso muda toda a situação; e é por isso que eu chamo de um dos essenciais, de fundamentos. Você sequer toca a escuridão; você não pensa nela. Não há porquê; ela não existe, é somente uma ausência.
Então apenas traga luz ao local e você não encontrará mais a escuridão, porque ela era a ausência da luz, simplesmente a ausência da luz – não algo material, com o seu próprio ser, não algo que exista. Mas simplesmente por que a luz não estava lá, você teve a falsa sensação de existência da escuridão.
Você pode ir em frente lutando com a escuridão por toda a sua vida e não será bem-sucedido, mas somente uma pequena vela é suficiente para dispersá-la. Você precisa trabalhar pela luz porque é positivo, existencial; ela existe por si própria. E uma vez que a luz vem, qualquer coisa que era a sua ausência desaparece.
A solidão é similar a escuridão.
Você não conhece a sua solitude. Você não experienciou a solitude e sua beleza, o seu tremendo poder, a sua força. Solitude e solidão no dicionário são sinônimos, mas a existência não segue os seus dicionários. E ninguém ainda tentou fazer um dicionário existencial que não fosse contraditório à existência.
A solidão é ausência.
Por que você não conhece a sua solitude, existe o medo. Você se sente sozinho e então você quer se apegar a alguma coisa, a alguém, a algum relacionamento, só para manter a ilusão de que você não está sozinho. Mas você sabe que está – por isso a dor. Por um lado você está se apegando a algo que não é real, que é somente um arranjo temporário – um relacionamento, uma amizade.
E enquanto você está em um relacionamento você pode criar uma pequena ilusão para esquecer a sua solidão. Mas este é o problema: ainda que você possa esquecer por um momento a sua solidão, no momento seguinte você subitamente se torna consciente que o relacionamento ou a amizade não é permanente. Ontem você não conhecia este homem ou esta mulher, vocês eram desconhecidos. Hoje vocês são amigos – quem sabe o dia de amanhã? Amanhã vocês podem ser desconhecidos novamente – daí a dor.
A ilusão dá um certo consolo, mas não pode criar a realidade para que todos os medos desapareçam. Ela reprime o medo, então na superfície você se sente bem – ao menos você tenta se sentir bem. Você finge se sentir bem para si mesmo: quão maravilhoso é esse relacionamento, quão maravilhoso é este homem ou esta mulher. Mas atrás da ilusão – e a ilusão é tão fina que você pode ver através dela – há dor no coração, porque o coração sabe perfeitamente bem que amanhã as coisas podem não ser as mesmas… e elas não são as mesmas.
Toda a sua vida confirma que as coisas vão se modificando. Nada permanece estável; você não pode se apegar a nada em um mundo de mudanças. Você queria fazer da sua amizade algo permanente mas o seu querer está contra a lei da mudança, e esta lei não vai fazer exceções. Ela simplesmente vai em frente fazendo as suas coisas. Ela irá mudar – tudo.
Talvez no longo prazo você entenderá um dia que foi bom que ela não tenha te escutado, que a existência não se incomodou com você e foi em frente fazendo tudo o que queria fazer… não de acordo com o seu desejo.
Pode levar um pouco de tempo para você entender. Você quer que este amigo seja seu amigo para sempre, mas amanhã ele se torna um inimigo. Ou simplesmente – “Você se perdeu!” e ele não está mais com você. Alguma outra pessoa irá preencher a lacuna que é muito mais superior. Então, de repente você se dá conta que foi bom que a outra pessoa se mandou; de outro modo você estaria preso a ela. Mas mesmo assim a lição nunca vai fundo a ponto de você parar de pedir por permanência.
Você vai começar a pedir permanência com este homem, com esta mulher; agora isto não irá mudar. Você não aprendeu realmente a lição de que a mudança é a essência da vida. Você deve entendê-la e ir em frente com ela. Não crie ilusões; elas não irão ajudar. E todo mundo está criando ilusões de tipos diferentes.
O que estou tentando dizer é que todo o esforço que foi dirigido para evitar a solidão falhou, e irá falhar, porque é contra os fundamentos da vida. O que é necessário não é algo que você possa fazer para evitar a sua solidão. O que é necessário é que você se torne consciente da sua solitude, o que é a realidade. E é tão belo experienciá-la, senti-la, por que é a sua liberdade da multidão, do outro. É a sua liberdade do seu medo de estar sozinho.
Somente a palavra “solitário” imediatamente lembra a você de que é algo como um machucado: algo é necessário para preenchê-lo. Há uma lacuna e ela dói: algo precisa preenchê-la. A própria palavra “solitude” não possui o mesmo sentido de um machucado, de uma lacuna que precisa ser preenchida. Solitude simplesmente significa completude. Você é um todo; não há necessidade de nenhuma outra pessoa para completá-lo.
Portanto tente encontrar o seu centro mais íntimo, onde você está sempre sozinho, sempre esteve sozinho. Em vida, em morte – onde estiver, você estará sozinho. Mas é tão cheio – não é vazio, é tão cheio e tão completo, tão transbordante de todas as essências da vida, com todas as belezas e bênçãos da existência, que uma vez que você tenha experimentado a solitude, a dor no coração irá desaparecer. No lugar dela, um novo ritmo de tremenda doçura, paz, alegria, felicidade estará lá.
Isto não significa que um homem que está centrado em sua solitude, completo em si-mesmo, não possa fazer amigos – na verdade, somente ele pode fazer amigos, por que não é mais uma necessidade, é somente um compartilhamento. Ele tem tanto, ele pode compartilhar.
A amizade pode ser de dois tipos. Uma é a amizade em que você é um pedinte – você precisa de algo do outro para ajudar a sua solidão – e o outro também é um pedinte, ele quer o mesmo que você. E naturalmente, dois pedintes não podem se ajudar. Em breve eles perceberão que seus pedidos de um pedinte duplicaram ou multiplicaram a sua necessidade. Ao invés de um pedinte, agora são dois. E se, infelizmente, tiverem crianças, então ali haverá uma companhia completa de pedintes que estão pedindo – e ninguém tem nada a dar.
Então todos estão frustrados e bravos, e todo mundo sente que foi traído, enganado. E na verdade, ninguém está traindo e ninguém está enganando, pois o que você tem?
O outro tipo de amizade, o outro tipo de amor, possui uma qualidade totalmente diferente. Não é de uma necessidade, ele vem do enorme tanto que você tem que quer compartilhar. Um novo tipo de alegria brotou no seu ser – a do compartilhamento, que você antes não estava consciente. Você esteve sempre pedindo.
Quando você compartilha, o apego é impossível. Você flui com a existência, com a mudança da vida, por que não importa com quem você compartilha. Pode ser a mesma pessoa amanhã – a mesma pessoa por toda a sua vida – ou podem ser diferentes pessoas. Não é um contrato, não é um casamento; é somente a partir da sua plenitude que você quer dar. Então independente de quem seja que esteja perto de você, você dá. E dar é uma grande alegria.
Pedir é uma miséria tão grande. Mesmo que você consiga alguma coisa pedindo, você irá permanecer miserável. Isso machuca. Isso machuca o seu orgulho, machuca a sua integridade. Mas compartilhar o faz ficar mais centrado, mais orgulhoso, mas não mais egoísta – mais orgulhoso de que a existência tem sido mais compassiva com você. Não é ego; é um fenômeno totalmente diferente… um reconhecimento que a existência permitiu a você algo que milhões de pessoas têm tentado, mas na porta errada. Você esteve na porta certa.
Você está orgulhoso de sua felicidade e por tudo que a existência deu a você. O medo desaparece, a escuridão desaparece, o sofrimento desaparece, o desejo por outros desaparece.
Você pode amar uma pessoa, e se a pessoa amar outra não haverá ciúme algum, porque você amou a partir de tanta alegria. Não era um apego. Você não estava segurando a pessoa na prisão. Você não estava preocupado que a pessoa poderia escapar pelos seus dedos, que alguém poderia começar um relacionamento amoroso…
Quando você está compartilhando a sua alegria, você não cria uma prisão para ninguém. Você simplesmente dá. Você sequer espera gratidão ou agradecimento por que você não deu para receber algo, nem mesmo gratidão. Você está dando por que está tão cheio que precisa dar.
Então se alguém for agradecido, você é agradecido à pessoa que aceitou o seu amor, que aceitou o seu presente. Ela aliviou você, ela permitiu que você a regasse com sua abundância. E quanto mais você compartilha, quanto mais dá, mais você tem. Então isso não faz você um avarento, não cria um medo de “eu posso perder isso”. Na verdade, quanto mais você perde, mais águas frescas irão fluir de fontes que você não tinha consciência antes.
Por isso eu não vou dizer nada para você fazer com a sua solidão.
Procure por sua solitude.
Esqueça a solidão, esqueça a escuridão, esqueça o sofrimento. Eles são apenas as ausências da solitude. A experiência da solitude irá dispersá-los instantaneamente. E o método é o mesmo: apenas observe a sua mente, seja consciente. Se torne mais e mais cônscio, até que finalmente você seja somente consciência de si-mesmo. Este é o ponto quando você se torna consciente de sua solitude.”
trechos extraidos de The Path of the Mystic, capítulo 19.

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