O cão possui faculdades apreciáveis, sentimentos afetivos, nobres, predominando o da fidelidade que, infelizmente, é o menos desenvolvido nos seres humanos primitivos ou pouco evoluídos. Ser fiel ao nosso próximo, é possuir uma das mais excelsas virtudes, a que faltou até em alguns dos discípulos do Mestre dos mestres - Jesus! Ter lealdade é ser amigo dedicado a outro ente, incapaz de o ludibriar; é ser infenso à traição - um dos mais condenáveis delitos morais.
Jamais um cão trai o seu senhor; antes, é capaz de se arrojar sobre um malfeitor e imolar a vida para defendê-lo! No entanto, o homem, o racional consciente, muitas vezes é infiel à consorte, aos amigos, aos próprios irmãos e pais que lhe insuflaram a vida, educaram e alimentaram, que por ele se sacrificaram com heroicidade ignorada e inexcedível. Revela-nos o cão notáveis virtudes: lealdade, submissão, denodo na defesa do amo, abnegação no cumprimento de seus humildes misteres, no sacrifício da vida em prol da do que o criou e alimentou. Não patenteia servilismo, e sim reconhecimento e fidelidade que não se podem confundir com aquele: um é treva, outro luz. Na maioria dos cães existem faculdades anímicas dignas de reparo, sobressaindo a da vidência e a da percepção sensitiva. O cão enxerga nas trevas, nos abismos da Terra e das almas, e, quase sempre, em vez de fixar a vista para devassar o ser humano, utiliza o olfato, que pressente as irradiações de quem se lhe aproxima, percebendo se são maléficas ou benéficas, as de um amigo ou adversário, pois, para ele, há como que o suave aroma de uma rosa ou a exalação nauseante do perverso que concebe espantosos delitos!
O olfato para ele é, assim, uma segunda visão, uma percepção psíquica de grande potência, um verdadeiro portento com o qual foi dotado pela Natureza. A sagacidade do cão é às vezes superior à do homem. Eis a triste conclusão a que chegamos: ultrapassa a dos mais famosos dos investigadores racionais. Essa emanação psíquica, pressentida pelo cão, constitui a chamada intuição que atua também à distância, nos vegetais e em todos os seres, afetando-os, causando-lhes, em numerosos casos, o aniquilamento da vida orgânica, fenômeno esse constatado há muitos séculos, pelos romanos, que lhe deram o nome de jetatura.*
(Espírito de Victor Hugo - Médium: Zilda Gama - Obra: Almas Crucificadas).
Nota do compilador:(*) = Jetatura = mau-olhado, azar, má sorte. Bruxaria
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